quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Erick de Araújo Silva

Sondagens oficiais dão a vitória a Mugabe, mas inquéritos independentes dizem que o Presidente é o terceiro mais votado
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Apenas amanhã se deverá começar a saber com alguma credibilidade se as eleições presidenciais, legislativas e autárquicas de ontem no Zimbabwe mudaram ou não a situação de grande marasmo económico em que o país tem vivido nestes últimos oito anos, desde a polémica reforma agrária que marcou a entrada no século XXI.
Uma vez que grande parte da imprensa internacional não teve acesso à cobertura das eleições, os relatos existentes são todos eles parcelares e não deixam adivinhar o desfecho de uma jornada que muitos chegaram a desejar que fosse decisiva para a evolução da antiga Rodésia do Sul.
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Apesar de o Presidente, Robert Mugabe, ter jurado que jamais lhe passaria pela cabeça viciar os dados, uma equipa de observadores africanos citada pela AFP manifestou a sua "profunda preocupação" por ter descoberto milhares de falsos eleitores numa assembleia do Norte da capital. E da União Europeia ou dos Estados Unidos não foi possível sequer enviar observadores. Apenas da África, da Rússia, da China, do Irão e de alguns países latino-americanos.
As urnas funcionaram das 07h00 às 19h00 locais (duas horas mais cedo em Lisboa), apenas se tendo tido conhecimento de um incidente violento. O dos cocktails Molotov que haviam sido lançados na noite anterior contra a residência de um candidato do partido governamental ZANU-Frente Patriótica, na cidade de Bulawayo, a segunda do país, situada no Sul e tida como um bastião dos oposicionistas.
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SONDAGENS CONTRADITÓRIAS
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As sondagens oficiais davam a entender que Mugabe poderia ter reeleito logo à primeira volta, com mais de 50 por cento dos votos expressos. Mas outras, citadas designadamente no Reino Unido pelo jornal The Independent, mas também não consideradas muito fiáveis, relegavam-no para a terceira posição, atrás do seu velho adversário Morgan Tsvangirai e do ex-ministro Simba Makoni.
Se isso fosse realmente verdade, sem ninguém ter chegado sequer a metade dos votos expressos, teria de haver obrigatoriamente uma segunda volta, daqui a três semanas, entre os dois candidatos mais votados na primeira. E os zimbabweanos continuariam na expectativa de um dia virem a ter dias melhores do que os actuais, em que 80 por cento da população se encontra desempregada.
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"Ides ver, a situação vai-se transformar depois das eleições. Iremos aligeirar as sanções virando-nos para o Leste, onde encontramos assistência e cooperação", prometeu o Chefe de Estado na altura da votação, insistindo na sua táctica dos últimos anos: virar as costas ao Ocidente.
"Estamos absolutamente confiantes em que o resultado será a favor do povo", proclamou Tsvangirai, líder do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), que já em 2002 tentara sem êxito derrotar Mugabe.
Quanto a Simba Makoni, ex-titular da pasta das Finanças, não se acreditava que estivesse ali naquela batalha com a perspectiva imediata de arrebatar a vitória, mas sim com a esperança de ir ganhando terreno para futuros combates, ultrapassada que seja em definitivo a época de Robert Gabriel Mugabe, o mais velho de todos os presidentes africanos.
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