IDIANE
Sr. Presidente, Srs. Senadores:"Povo! Povo infeliz! Povo, mártir eterno Tu és do cativeiro o Prometeu moderno."Iniciamos com Castro Alves nosso pronunciamento esta tarde.Ninguém melhor do que o poeta encarna, através dos tempos, a luta e o símbolo da raça negra no Brasil, que a heroificou, tão genialmente, nos candentes versos de "Os Escravos". E o assunto que nos traz a esta tribuna fixa-se, essencialmente, sobre a posição do negro no mundo de hoje, especialmente na sociedade brasileira.A última sexta-feira foi uma data particularmente significativa para os Direitos Humanos.E nós que, nesta Casa, ao longo desses anos de atuação, ternos veiculada com insistência a temática dos Direitos Humanos, não poderíamos, no momento, ficar silentes ante urna de sua principais questões, qual seja, a segregação racial.Comemorou-se, no dia 21 de março, com grande júbilo para aqueles que buscam e anseiam pelos Direitos do Homem, o Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial “, instituído pela Organização das Nações Unidas, através da Resolução no 2.506, de 21 de novembro de 1969, aprovada em Assembléia-Geral:"Conclama-se a todos os Estados e organizações a come· morarem com cerimônias solenes o "Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial", em 21 de março de 1970 - o décimo aniversário do massacre de Sharpeville, em solidariedade ao povo oprimido da África do Sul e dar especiais contribuições para este dia em apoio à luta contra o apartheid ..O ódio racial - sabemos todos - no curso da História, tem arrastado muitos povos ao desespero e à luta fratricida, infringindoinenarráveis sofrimentos a milhões de pessoas. O terror nazista contra os judeus, em tempos recentes, constituiu um tenebroso testemunho.Séculos e séculos, entretanto, contemplam o racismo do homem branco sobre o negro na África.A escravidão negra - abjeta, aviltante e desumana - brutalizou o homem opressor e racista e aninializou o negro escravo,· como se ele não tivesse sentimento, nem alma.Essa nódoa infamante e cruel, praticada largamente pelos impérios colonialistas europeus, a partir do século XVII, marchou às terras das Américas, que foram "adubadas" com o· sangue e suor do negro subjugado.Terminado o tráfico africano, esse mesmo colonialismo implantou-se definitivamente em toda a África, submetendo, pela força e violência, os povos· e tribos da raça negra.Após a II Guerra Mundial, sob a perspectiva de nova realidade internacional, os movimentos de libertação nacional surgem com grande vigor e pujança no continente africano e asiático.Os povos começam a se libertar de um colonialismo anacrônico e anti-histórico e as potências imperialistas européias, muito a contragosto, compreendem, enfim, o término daquela época.Algumas, inteligentemente, cedem; outras, mais recalcitrantes, teimam em resistir à implacabilidade do processo histórico."Toda noite escura tem um alvorecer brilhante", sentencia antigo provérbio persa. A independência das novas nações africanas consolidada na década de 60 - torna-se um imperativo e realidade inconteste naquele continente ..Mas se o colonialismo morrera, nem assim a opressão da minoria branca. - descendente de antigos colonos - sobre a maioria negra, deixava de se impor, como se impõe ainda na África do Sul, na Namíbia e até muito recentemente na Rodésia - Zimbabwe.Aí está o odiado apartheid, imposto pelo regime escravagista de Pretória, a desafiar a ONU e os povos que desejam a paz, a igualdade entre as raças e a liberdade.Mas a História, Sr. Presidente, não se faz, por mais que se tente, com retrocessos e obscurantismos. Prova-o a edosão de movimento libertário nacionalistas, como a independência das ex-colônias portuguesas de Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde, e, já agora, a verdadeira revolução pelo ocorrido na Rodésia-Zimbabwe, com a eleição do líder Robert Mugabé e de uma maciça maioria negra para dirigir o país.A vitória de Mugabé, em pleito direto e livre, transcende a apenas uma disputa eleitoral e extrapola, de muito, a uma questão interna naquela nação.Exemplifica ela, na verdade, e de forma grandiosa, para o resto da África, a fraternidade racial e liquida com regimes racistas intoleráveis, como o de Ian Smith que tanto infelicitou e estigmatizou milhões de negros rodesianos.O Sr. Gilvan Rocha - Permite V. Ex: um aparte?O SR. ITAMAR FRANCO - Pois não, nobre Senador.O Sr. Gilvan Rocha - No momento em que V. Ex: chama a atenção do Senado da República, sobre o problema racial, no mundo, quero me congratular com V. Ex: pela oportunidade do assunto. Todos nós sabemos que o Brasil não possui agudamente este problema, mas, nem por isso deixa de possuí-Io. A nossa decantada democracia racial, de vez em quando, se vê torpedeada por discriminações que um político moderno como V. Ex: não pode conceber de maneira alguma. Eu desejo acompanhar a esteira do pensamento de V. Ex:, dizendo que é nosso dever repelir esse recrudescimento racial que parece estar vindo como um dos fenômenos do fim do século XX. E dizer que, em nosso País, todo o cuidado é pouco no sentido de que não se deixe de proteger as minorias raciais, as minorias, aliás, de uma maneira geral. Eu, inclusive, incluo nesse tipo de minoria, não uma minoria numérica, mas, uma minoria na participação da vida nacional, as mulheres. A discriminação sexual também é um fato no Brasil. Esta semana mesmo, nós vimos, escandalizados, uma notícia de que uma senhora teve que recorrer aos Tribunais Superiores para assegurar o seu lugar concurso público de Escrivã de Polícia, e mesmo assim não conseguiu a vaga que era dela por direito. Vê V. Ex: que ainda existem distorções do ponto de vista de discriminação neste País, que tem tudo para ser exemplo no mundo na democratização das suas minorias. Este é um assunto atual, sério e que V. Ex: levanta com a maior propriedade. Queira receber minha solidariedade e apoio ao discurso que tão brilhantemente V. Ex: está proferindo.O SR. ITAMAR FRANCO - Muito obrigado, nobre Líder, Senador Gilvan Rocha, pela intervenção de V. Ex: a qual tão bem caracteriza o processo ainda hoje existente no mundo da discriminação racial.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
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